O QUE SERÁ A VISÃO?
- Alexandra Mettrau
- 18 de mar. de 2022
- 1 min de leitura
Olho para a bromélia do lado de fora de minha janela, vejo uma pequena perereca em sua folha.
Marrom, um amarelo risca a lateral da cabeça, partindo da ponta do focinho, passando pelos olhos e terminando no dorso, acima dos ombros.
Imóvel, em atitude de espera.
O que ela espera? O sol para se aquecer um pouco e depois retornar à umidade do centro da planta que a acolhe?
Há muito não vejo pererecas, sapos, rãs por aqui. É raro e é uma pena. Sinal de que a natureza, embora abundante neste pequeno pedaço de paraíso em que me encontro, poderia ser mais saudável.
Tão imóvel a pequena criatura! Tão raro ter uma visita assim ilustre!
A curiosidade me move. Lentamente me aproximo para não a assustar… Aos poucos encontro um ângulo de observação. Coloco os óculos e...
Surpresa! Decepção! Visão de meia idade que me engana!
Minha esperança se esvai... O pequeno ser que voltava para reequilibrar a natureza não passa de montinhos de folhas secas e sujeira coladas na folha da planta.
O que será a visão? Será que este sentido nos traz um descortinar do mundo, só para que, depois, ao envelhecermos e ele lentamente se retirar, possamos admirar a beleza de outras formas? Em um montinho de folhas parecendo uma perereca que nos dá a possibilidade de “ver” internamente?
Há o perigo de ficarmos na ilusão ou na decepção da descoberta da realidade, mas hoje percebi o belo e sábio da visão da memória.
IMAGEM
M. C. Escher - Fish and Frogs

Nesses últimos refúgios da cidade, as construções avançaram diminuindo o espaço dos visitantes de outrora, cada vez mais raro, a visão afetiva do coração nos compensa de nossa memória.
Belo texto !
Parabéns.